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5 (das muitas) curiosidades sobre a Arábia Saudita

No dia 20 de Janeiro de 2018 embarquei naquela que seria a melhor e a pior aventura da minha vida. Depois de todo um processo de recrutamento longo e dispendioso, deram-me a passagem para Jeddah, na Arábia Saudita, com saída de Lisboa.

Ainda não me tinha realmente candidatado quando avisei toda a minha família e amigos de que iria numa aventura para Arábia Saudita. Achei que devia fazer o estudo das reações ainda antes de decidir o que fazer. A verdade é que quanto mais me diziam que eu era louca, mais eu queria fazer parte disto. No dia seguinte estava a enviar o meu currículo.

Foram 3 meses de entrevistas, exames médicos e testes de inglês (que era zero na altura). Todos os dias alguém me perguntava se já tinha desistido, que ia ser muito difícil, se sabia no que me estava a meter e que ser mulher era horrível num país como este.

Olhando para trás percebo que todos tinham razão:
– Vivi na Arábia Saudita pouco menos de um ano, ou seja, de certa forma, desisti;
– Foi de facto muito difícil;
Não fazia MESMO ideia no que me estava a meter;
Ser mulher não era horrível, era muito horrível.

4 anos depois percebo que vivi dos piores e dos melhores momentos de sempre, que aprendi coisas que nada na vida me vai ensinar igual e, especialmente, que nada é tão real até tu próprio conheceres.

1 – Ser mulher
Este tema é muito sensível em todos os cantos do mundo, mas no médio oriente é alarmante. Não estive tempo suficiente neste país, nem conheci nenhuma família propriamente saudita para poder elaborar este assunto a 100%, por isso falarei apenas da minha perspetiva.

Se nos perguntassem a nós, que tínhamos chegado de Portugal, se aquela realidade chocava? Sim, muito! Nunca dei tanto valor à liberdade. 

Avisaram-nos ainda em Portugal que tínhamos de ir de calças, camisola de manga comprida e, se possível, cabeça tapada, e que quando chegássemos nos dariam algo para colocar por cima até termos acesso às vestimentas certas, coisa que eu ainda não sabia o que queria dizer.

Quando aterramos e nos deslocamos dentro do aeroporto, onde as únicas mulheres existente são as que trabalham na segurança por onde só passam passageiros mulheres, percebemos que era quase como estarmos nuas.

Sendo muçulmana, ou não, o uso da abaya era obrigatório e sempre que possível tapar o cabelo por completo. O cabelo é símbolo de beleza e poder no mundo feminino, por isso exibi-lo poderia ser um sinal de provocação.

Eu estava presente no dia em que as mulheres puderam começar a conduzir e as poucas sauditas que conheci, disseram-me que mesmo podendo, não queriam.

Eu tinha de pagar cerca de 50€ cada vez que queria ir à praia e qualquer saudita era completamente proibido de entrar, fosse homem ou mulher.

Para andarmos de Uber ou táxi, os retrovisores estavam sempre virados para cima, garantindo que nunca cruzávamos olhares. Se podíamos pedir uma motorista mulher? Não… As sauditas não trabalhavam, mesmo que quisessem.

 

 

Restaurantes, cafés, bancos, entre outros serviços, tinham sempre duas entradas, uma para homens e outra para famílias. Na zona das famílias poderiam entrar homens se relacionados com as mulheres que acompanhavam.

Nos aviões, tínhamos que garantir que nenhuma mulher se sentava ao lado de um homem desconhecido. Se isto acontecesse, reajustávamos todos os lugares para que ficassem homens com homens, mulheres com mulheres, ou então famílias sentadas juntas.

A igualdade de direitos é uma exigência que eu gostaria que fosse cumprida em todo o lado, não só entre géneros, como raças, religiões, etc.

Mas depois de viver aqui percebi o cúmulo de viver num regime de patriarcado. 

2 – A comida
Tirando os primeiros três meses em que andámos a nooddles porque só tínhamos acesso a uma chaleira e não a uma cozinha, comi sempre bem.

Não existem carnes vermelhas e porco é estritamente proibido, por isso as refeições são à base de frango, carneiro ou vegetais.

Nunca me consegui habituar ao sabor do carneiro por isso frango foi o meu melhor amigo. O frango e a minha excelente amiga e parceira de aventuras, Catarina, que cozinhava lindamente!

Teria sido a oportunidade perfeita para me tornar vegetariana, mas só depois de viver num país tão sujo é que ganhei consciência ambiental.

É curioso como um povo que rejeita a carne de porco por ser suja, consiga ser tão pouco asseado.

Descobrir os melhores restaurantes foi um desafio, mas felizmente conhecemos as pessoas certas para nos mostrar tudo e ver também as coisas boas das cidades onde estivemos.

Trabalhando em aviões, era de evitar fazer as refeições a bordo, pelo bem da minha saúde, mas abusávamos do chá e das tâmaras como se não houvesse amanhã!

 

 

3 – Bebida/ Diversão/ Sair à noite
Não existe vida de noite na Arábia Saudita, sem ser durante o Ramadão.

O álcool é totalmente proibido e não existem bares, nem discotecas.

As festas a que fui eram sempre privadas, em casa de outros portugueses, ou outros residentes europeus e americanos.

Como o nosso condomínio era restrito a mulheres, todas da mesma empresa, o segredo era conhecer pessoas de outros condomínios para termos algo parecido a uma vida social.

Tivemos sempre sorte com quem fomos conhecendo e os locais que fomos frequentando. Num país desconhecido e com tantas regras, facilmente podia correr mal.

Quando os nossos horários não eram compatíveis, planeávamos coisas no nosso condomínio com mais colegas. Ou aprendíamos sobre as culturas umas das outras, ou apenas recordávamos a nossa.

 

 

4 – O Ramadão
Para quem não sabe, o Ramadão corresponde ao nono mês do calendário islâmico. Durante este mês, ninguém pode beber, comer, fumar ou ter relações sexuais entre o nascer e o pôr do sol.

Sendo que os dias são significativamente grandes e quentes durante esta fase, para compensar, a festa é toda à noite!

Assim que o sol se põe, são banquetes, luz, festa e música em todo o lado. As pessoas andam nas ruas até bastante tarde e até o nosso recolher obrigatório passava da meia noite para as duas da manhã.

Em voos diurnos não tínhamos comida e confesso que a exigência era tanta, que para comer ou beber água, escondia-me na casa de banho por respeito.

O Ramadão termina com o Eid al Fit. Este momento define o início do décimo mês, o mês de Shawwal, e os primeiros três dias são feriado e celebrados com grandes banquetes e distribuição de comida pelos mais pobres.

5 – As rezas
A primeira vez que ganhámos coragem de sair sozinhas e ir a um centro comercial, foi num dia de fim de semana, que na Arábia é à sexta e sábado, depois de almoço.
Andávamos entusiasmadas a comprar novas abayas, a nossa nova vestimenta, quando de repente, fecham a grade das lojas, as portas do centro comercial e as pessoas desaparecem.

Mesmo querendo levar tudo o que quisesse, não tinha por onde fugir…

No fim, assustadas, foi-nos explicado.

Sempre que é hora da reza TODOS param para rezar, estejam a fazer seja o que for, e esteja quem estiver no seu caminho!

Ou seja, para fazermos as nossas compras, ir ao supermercado ou até ter qualquer refeição fora, tínhamos de ter a nossa lição bem estudada para não apanhar nenhuma reza pelo meio.

O desafio? Eram 7 rezas por dia!

Acredito que chegou a um ponto, que já entrávamos nas lojas a tempo de ficarmos com o espaço só para nós e escolhermos o que quiséssemos com calma.

Todos os espaços tinham autocolantes no teto a indicar onde é Meca, para que todos soubessem para que lado rezar.

Os aviões eram equipados com zonas de reza para todos os passageiros e crew.

 

O acesso à informação é muito limitado dentro do país, nem nos era permitido aceder a certos sites, o que significa que conhecer outras realidades para os habitantes com menos possibilidades é muito difícil.

No entanto, há cada vez mais jovens a estudar fora e mudar a sua forma de pensar. Claro que vai haver pessoas que não aceitem essas mudanças e por isso vemos o que se passa no mundo neste momento.

Acredito que um dia possamos viver verdadeiramente em paz nos 4 cantos do mundo.

Se alguma destas coisas tem ligação ao Marketing? Não…

Se me ajudaram a ser uma melhor profissional? Sem dúvida.

Em geral, foi uma experiência marcante e memorável!

Nunca fui mal tratada e senti-me sempre segura, mas foi um desafio encontrar um equilíbrio.

Tudo o que vivi e conheci dava para uma lista de centenas de pontos e acredito que nunca me vou esquecer de nenhum deles.

Viver novas experiências, conhecer o mundo e lidar com pessoas novas são opções que nos abrem horizontes e nos permitem conhecer, não só mais e melhor, como nos ensina muita coisa sobre nós mesmos.

Vai, arrisca, diverte-te!

 

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