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AJR: Entre o Storytelling e a Autenticidade

AJR: Entre o Storytelling e a Autenticidade

Quando falamos de gosto musical, considero que existem dois tipos de pessoas: as que ouvem músicas pela melodia e as que dão primazia à letra. Sempre me identifiquei mais com este último grupo. Não estou, com isto, a dizer que é impossível encontrar músicas ou artistas que conseguem um bom equilíbrio entre estas duas variáveis, contudo tenho cada vez mais dificuldade.

Por isso, hoje decidi trazer-vos um exemplo disso, uma das bandas que tenho vindo a acompanhar já há uns anos e que se destaca pela sua autenticidade, vulnerabilidade e capacidade de expressão.

Os AJR são uma banda norte-americana composta pelos irmãos Adam, Jack e Ryan Met. Provavelmente, não os conheces pelo nome, mas tenho a certeza de que já ouviste pelo menos uma música, quanto mais não seja num anúncio de televisão.

Com um estilo musical tão único, é difícil integrar as suas músicas num só género, passando pelo indie, pop alternativo e electropop.

Mas, afinal, o que os distingue?

Ao longo dos cinco álbuns publicados, Adam, Ryan e Jack procuram de certa forma dissecar aquilo por que cada um tem passado. Este processo resulta na abordagem de temas variados e inusitados, conferindo grande vulnerabilidade e autenticidade às suas músicas. A abordagem de experiências pessoais, cria um sentimento de familiaridade no ouvinte que se relaciona com as temáticas sentindo-se representado.

Arrisco-me a dizer que existe pelo menos uma música com a qual te identificas. Isto porque são abordados conceitos complexos, como política, perda, ansiedade, procrastinação, crescimento, mudança mas também noções mais leves (por exemplo, se és fã da série The Office, existe uma música).

Contudo, os AJR não se ficam por aqui! A sonoridade das suas músicas vem acrescentar outra vertente expressiva. Através do recurso a sons invulgares, muitas vezes do nosso dia a dia, os três irmãos conseguem criar uma atmosfera quase teatral que amplifica a mensagem das letras.

Deste modo, cada música revela-se uma experiência completa de storytelling, onde a melodia e a letra se entrelaçam para envolver profundamente o ouvinte na história que está a ser contada. Alguns exemplos de músicas onde estas ideias estão bem claras são:

    • “Don’t throw out my legos” — música que aborda o tema da transição para a vida adulta. Conta a história de alguém que muda de casa, mas quer manter um pedaço do seu passado, da sua infância, simbolizada pelos Legos, representando a nostalgia e o medo da mudança.
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    • “Dear Winter” — esta canção é uma carta de um pai para o seu futuro filho. A letra descreve as esperanças e os medos do narrador sobre o que o futuro reserva, criando uma narrativa tocante e pessoal sobre família e expectativas para a próxima geração.
    • “Inertia” — música que fala sobre sentir-se preso numa rotina e a dificuldade de sair dela. A letra explora o sentimento de estagnação e a luta interna para encontrar motivação e fazer mudanças significativas na vida.
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    • “Netflix Trip” — esta canção liga momentos da vida do narrador com episódios de “The Office”, criando uma narrativa única que mistura memórias pessoais com a série. A música utiliza a série como um ponto de referência para contar uma história de crescimento pessoal e de momentos marcantes.

Como é que tudo começou?

A história dos AJR teve um grande impacto naquilo em que se tornaram e como se dão a conhecer.

O bullying foi o primeiro obstáculo que tiveram de enfrentar decorrente das covers que publicavam no YouTube. Esta situação, quase que os fez desistir, contudo, era nos concertos que davam no Central Park que conseguiam ganhar alguns trocos para comprar equipamento e novos instrumentos alimentando o seu gosto pela música. O início da sua carreira musical foi, assim, moldado por inseguranças e sobretudo esperanças de algum dia se fazerem ouvir.

Inspirados por ícones do passado como Billy Joel, The Beach Boys mas também por referências do presente como Kendrick Lamar e Kanye West começaram a escrever e compor as suas próprias músicas.

Sem nada a perder, recorreram às redes sociais para tentar chegar à indústria musical, enviando mensagens através do Twitter a todos os famosos de que se conseguiam lembrar. Foi da cantora Sia que obtiveram resposta, e foi ela quem os apresentou a Steve Greenberg, o atual manager da banda.

Em 2016, os AJR lançaram o seu primeiro hit “Weak” que alcançou a posição 53 na Billboard Hot 100 tendo, também, chegado às rádios portuguesas. Atualmente o TikTok tem-se revelado um grande aliado, voltando a despertar músicas da banda pela sua sonoridade singular. Um exemplo disso é a música “The Good Part”, de 2017, que de certeza que já ouviste.

Os Álbuns

Os AJR contam com 5 álbuns publicados: “Living Room” (2015), “The Click” (2017), “Neotheater” (2019), “OK Orchestra” (2021) e “The Maybe Man” (2023). Estes acompanham os desafios, dúvidas, preocupações, sonhos e expectativas de Adam, Jack e Ryan desde 2015, sendo o seu último álbum o mais pessoal, abordando emoções mais intensas resultantes da perda do pai em 2023.

Deixo-vos aqui a lista de temas abordados em cada álbum:

    • Living Room (2015) — Simplicidade da juventude, nostalgia e memórias, autodescoberta, autoafirmação, autoconfiança, sonhos, ambições e respetivos desafios.

       

    • The Click (2017) — Ansiedade, pressão social, fragilidade humana, solidão, crescimento pessoal, autoaceitação, transição para a vida adulta e consequentes incertezas.

       

    • Neotheater (2019) — Medo do futuro, ansiedade relativamente ao desconhecido, adaptação à mudança, reflexão e crítica social (particularmente sobre a superficialidade do entretenimento e sobre as normas e valores que regem a sociedade), resiliência humana e otimismo.

       

    • OK Orchestra (2021) — Reflexão sobre a experiência humana e o sentido da vida, crítica social, cultura contemporânea, desafios da vida familiar, vulnerabilidade humana, dificuldade de se ser autêntico e ambição por sair da zona de conforto.

       

    • The Maybe Man (2023) — Redescoberta pessoal, autorreflexão e autocrítica, inércia à mudança e estagnação pessoal, perda de controlo, aceitação de falhas/imperfeições e como lidar com a perda.

Desde o seu segundo álbum, os AJR têm vindo a desenvolver uma identidade visual muito própria, recorrendo maioritariamente a ilustrações de modo a criar um universo atmosférico que serve como um escape para os ouvintes, transportando-os para um mundo de imaginação e reflexão. Estas ilustrações ajudam a estabelecer a narrativa e o clima do álbum ou single, complementando a experiência auditiva com elementos visuais envolventes. 

Cada capa é cuidadosamente concebida para capturar a essência do single/álbum e transmitir visualmente os conceitos explorados nas músicas. Além disso, recorrem frequentemente a easter eggs de modo a fazer alusão a músicas específicas ou momentos importantes na carreira da banda, adicionando uma camada de profundidade e engajamento para os fãs mais atentos.

Termino, assim, este showcase esperando genuinamente que os AJR vos tenham despertado alguma curiosidade quanto mais não seja para sair um pouco da vossa zona de conforto. Se quiserem arriscar, deixo-vos aqui esta playlist com músicas que considero que representam a verdadeira essência da banda.

Com a sua autenticidade e storytelling únicos, os AJR oferecem uma experiência musical que nos convida à reflexão e remete a novos horizontes criativos que certamente valem a pena explorar.

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