O centro de Portugal está cheio de estrangeiros. Coimbra está a abrir portas ao mundo. As serras, vales, praias e natureza do país abrem o apetite àqueles que enfrentam crises de meia, um quarto, dois terços, ou o todo da idade.
Do Canadá para Assafarge, da Holanda para Eiras, dos Estados Unidos para Ansião, do Reino Unido para Alvaiázere, de Israel para Penela. Vêm de todos os cantos do mundo, mas sentem-se em casa. Uns mais rebeldes do que outros. Na casa dos 40, casados, mas no lugar onde muitos optavam por um filho, está um cão. O trabalho de escritório é substituído pelo artesanato, pela escultura, pelo trabalho físico. As casas abandonadas ou praticamente em ruínas esquecidas pelos portugueses são reabilitadas, dão-lhes vida e um toque estrangeiro. Lutam com ervas daninhas, como quem luta para pôr a gravata às 7h da manhã.
Tenho por hábito visitar mercados na região centro e descobrir o artesanato português, mas nas vilas começam a fundir-se nómadas e agricultores, millennials e baby boomers, e o artesanato passa a ser de todos.
Desafiam as regras culturais e genealógicas. Não assentam, vão à descoberta do mundo e de si próprios. Seguem a intuição e pouco a razão. São as ovelhas negras, cinzentas para uns, e brancas para outros.
Vendem tudo. Arrumam o que precisam em 4 malas, 2 bicicletas e uma casota porque os patudos vão atrás. Criam um novo capítulo de vida. Os sonhos dão lugar à rotina.
Inspirei-me este fim de semana em pessoas que conheci. Ovelhas brancas para mim. Largaram tudo para virar (quase) portugueses, para experienciar o país dos seus antecedentes, conhecer as suas raízes e herança genealógica. Do Canadá para Coimbra, do Texas para as Caldas da Rainha, da África do Sul para Penela. A terra onde nasceram não é aquela onde permaneceram.
Todos nós gostamos de viajar, uns mais que outros, mas sair da rotina, descobrir um país ou uma cidade é algo que poucos (ou nenhuns) dizem não gostar de fazer. As estatísticas dizem que a Gen Z é aquela que quer viajar para sentir e não para consumir. Apesar de ser a mais influenciada pelas redes sociais é aquela que mais quer viajar para experienciar, para viver.
Segundo o relatório “Youth of today, travel of tomorrow”, publicado recentemente pela YouGov, “desde outubro de 2020 a propensão para viajar num período de 12 meses atinge o seu valor mais elevado na geração mais jovem, entre os 18-24 anos”. Também, ao contrário das outras gerações, os jovens procuram cada vez mais experiências culturais, onde podem apoiar comunidades locais.
Mas foram os Baby Boomers (1946-1964) os que deram boost à trend das viagens. Foram os primeiros mochileiros e workaholics, e viajavam por missões militares, do Corpo de Paz, ou por programas de intercâmbio estudantil. As gerações seguintes seguiram-lhes os passos, principalmente Millenials e GenZ. São eles agora que metem a mochila às costas e se mudam para o outro lado do mundo, são os que deram origem à palavra “expat”, têm as viagens no ADN.
E porquê tantos expats e estrangeiros em Portugal? Bem, em 2020 Lisboa era a terceira melhor cidade do mundo para os estrangeiros viverem, e em 2021 ainda estava no top 20 com o 15º lugar. Lisboa e Portugal estão na boca do mundo, e o mundo está a uma distância de segundos hoje em dia.
Para os expatriados (“expats”) a conversa é diferente e Portugal está no top 5. É o Expat Insider que diz que “cerca de 45% dos expatriados pretendem ficar em Portugal para sempre, enquanto apenas 35% dos expatriados em todo o mundo dizem isso sobre o respetivo país anfitrião.” Os professores de Português que se preparem… vai haver muitas explicações de Português para dar!
Na última década, segundo o “Los Angeles Times”, o número de estrangeiros em Portugal cresceu 40%, mas os portugueses estão de partida. Cada vez mais se vêm matrículas estrangeiras, pessoas demasiado ruivas para serem portuguesas, e ouvem-se línguas que não falam “saudade”.
As estatísticas não mentem. Portugal está de portas abertas e os curiosos não param de entrar. Espalham-se por Portugal e encontramo-los em mercados em zonas rurais, na mesa do lado no café ou na rua a pedir direções num Português arranhado de quem vive cá há alguns meses.
Isto tudo para dizer que estes estrangeiros só me deixam com vontade de planear a próxima viagem!